Exposição
Palazzo Franchetti
Bacia do Tâmega

Space Transcribers
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A água da Bacia do Tâmega, outrora base de culturas de regadio, é hoje o principal recurso de uma das maiores instalações de energia hídrica verde da Europa. O Sistema Eletroprodutor do Tâmega, conhecido como Gigabateria, trouxe transformações significativas a esta região, tornando evidente o contraste entre dois modos de gerir água: como recurso e bem comum local e enquanto produto mercantil para a criação de energia. Ao explorar formas de articulação entre diferentes escalas e tempos presentes neste território, ativa-se o diálogo, a partir da capacidade mediadora da arquitetura, procurando mitigar o impacto da metamorfose do território, flora, fauna e da vida humana locais.

Uma hidro-metodologia, materializada em práticas espaciais críticas, combina a análise imersiva e o jogo performativo como proposta arquitetónica para reimaginar o conceito de comuns na gestão hídrica do Tâmega. A investigação analítica, aqui denominada de hipertexto do Tâmega, potencia os contrastes e as ligações entre arquiteturas hídricas da região, os distintos modos da sua gestão e as suas relações com humanos e não-humanos. Recorrendo a hidro-artefatos, a play tour – performada e jogada em Março de 2023 e registada em filme documental – revela métodos poéticos que procuram reconciliar tensões hídricas existentes, enquanto aponta caminhos para o desenho de diálogos que antecipam futuros mais comuns sobre o Tâmega e além.

Bacia do Tâmega
[1]
MOINHOS DE VENTO DO TERCEIRO MILéNIO
Fotografia impressa em vinil colada sobre alumínio
Álvaro Domingues
A fotografia da autoria do geógrafo álvaro Domingues poderia servir para ilustrar uma das cenas de um filme futurista qualquer. Contudo, a cena representada não se trata de uma utopia fictícia. Ao invés, ilustra os impactos e as complexidades que a deslocação de uma hélice de ventoinha eólica — uma das muitas partes da Gigabateria do Tâmega — tem na transformação da paisagem.
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HIDRO MAPA DA BACIA DO TâMEGA
Impressão UV e vinil sobre alumínio
Space Transcribers
O mapa representa o sistema hidrográfico na região de Ribeira de Pena em Portugal. Este mapa integra não só os rios Tâmega, Torno e ribeiras existentes, mas também inclui todas as arquiteturas de água construídas sobre este território, tais como tanques de água domésticos, levadas, rede municipal de depósitos de água, centrais hidroelétricas e as três barragens da Gigabateria.
[3]
HIDRO ARTEFATOS
Impressão 3D com filamento PLA cor-de-laranja translúcido
Space Transcribers
Os seis hidro-artefatos serviram para a realização e ritualização de uma tour performativa — hydro play tour — na região do Tâmega. Cada artefato foi desenhado como metáfora crítica para debater um assunto hídrico e lançar um desafio de jogo: são ativados com água e para serem jogados requerem múltiplos participantes. Os modelos digitais destes artefatos estão disponíveis para descarregar e imprimir em formato open-source.
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HIPERTEXTO DO TâMEGA
Impressão UV e vinil sobre alumínio, impressão 3D com filamento PLA branco
Space Transcribers & Álvaro Domingues
O hipertexto do Tâmega é um instrumento conceptual de análise das lógicas e narrativas hidrogeográficas do Tâmega. O hipertexto apresenta três temas hídricos — água H2O, água-recurso e água-mercadoria — que se distribuem por vinte e dois blocos de informação, ou lexias, que contêm desenhos técnicos, fotografias, listas e estruturas tridimensionais relacionadas com as arquiteturas materiais e imateriais da água do Tâmega.
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HIDRO PLAY TOUR NO TâMEGA
Vídeo, som, 12’40’’
Miguel Tavares & Space Transcribers
O filme Hidro Play Tour no Tâmega documenta a play tour realizada no dia 19 de Março de 2023 com trinta participantes — residentes locais, agentes e investigadores externos — na região do Tâmega. O filme- -documentário acentua os contrastes dípticos entre as múltiplas arquiteturas da água locais e as três barragens da Gigabateria, evidenciados ao longo do jogo performativo.
Douro Internacional

Dulcineia Santos Studio
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A investigação concentra-se na cota alta das margens do Douro Internacional, região paradigmática da relação de dependência e partilha entre Portugal e Espanha, sublinhando a relevância da água na conservação do solo e dos ecossistemas, para além do seu uso enquanto recurso energético e bem essencial para consumo humano. Contribuindo para o combate à desertificação de uma zona crescentemente despovoada, propõe-se a reaprendizagem de técnicas ancestrais e sistemas naturais, e a recuperação da dimensão simbólica dos elementos naturais.

Uma visão para a preservação da água doce é contada através das raízes da árvore de um Freixo, sobre as quais peças cerâmicas foram moldadas para dar a ver o corpo invisível do chão, trazido aqui por meio de um substituto – um tapete de terra. O solo é o reservatório do futuro, para água e vida: um conceptáculo vivo, mineral e orgânico, onde raízes de árvores se entrelaçam num diálogo de formas que se complementam e desaceleram, espalham e infiltram a água. Trata-se de um sistema complexo e inteligente, de estrutura esponjosa e em permanente mudança, engendrado localmente, e cuja expressão resulta das forças dos diferentes ecossistemas coabitantes, na luta por comida e reprodução da espécie. O “chão como reservatório” é a lição do Douro Internacional para outros lugares, e a evidência de que apenas um saber local, partilhado e multidisciplinar, poderá conseguir ler e reconhecer o potencial de cada chão, daquilo de que é feito e de que precisa.

Douro Internacional
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THIS IS WATER
Instalação composta por 600 peças de barro, paisagem sonora e três fotografias

Autores:
Dulcineia Neves dos Santos, Frederico Moncada, Georges Lieben, Ivana Sehic
Paisagem sonora:
Lendl Barcelos
Fotografia:
Miguel Fernandes
This is Water é o nome da instalação que constitui o primeiro momento de síntese e apresentação ao público dos resultados da investigação do Laboratório do Douro Internacional, preconizados no relatório preliminar — Groundwork. Por meio de um conjunto de elementos representativos, substitutos de um sistema difícil de ver, pretende--se revelar formas, materiais, movimentos e sons de uma natureza escondida — “o chão” que se continuará a afirmar como o lugar onde a natureza e a humanidade cooperam para garantir a sustentabilidade de um futuro, no qual a água continuará a garantir a existência da vida. Através de um tapete de 600 peças cerâmicas moldadas sobre raízes de árvores de Freixo expõe-se a inteligência radicular, porosa e esponjosa dos solos — a alternativa hídrica que procuramos. A elevação das raízes sobre pedestais permite nos isolar a sua capacidade de amarração brutal, intrínseca ao simples entrelaçar.
Awash é o nome da paisagem sonora que acompanha o nosso movimento no espaço. Tirando partido das diferentes vibrações, intrínsecas à estrutura molecular de cada peça de barro, evoca-se o espectro sonoro em constante mudança das linhas de água.
Médio Tejo

Guida Marques
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O impacto da indústria mineira é manifesto na região do Médio Tejo, nomeadamente na contaminação da água do rio Zêzere e lençóis freáticos de modo alargado. A constatação do elevado nível de metais pesados, acima do máximo recomendado pela Organização Mundial de Saúde, é particularmente grave num momento em que se considera a hipótese do seu transvase, para aumentar o caudal do rio Tejo e garantir o abastecimento de água na área metropolitana de Lisboa. Repensando as políticas e prioridades do extrativismo, a proposta defende a renaturalização progressiva da paisagem, num processo- -manifesto de recuperação e descontaminação, a partir das ferramentas políticas e ativistas da arquitetura.

A Arquitetura também se faz de manifestos e da coragem para reparar. A partir de registos escritos e performativos, expressa-se uma forte relação de proximidade e intimidade com o território, sensível ao passado e preocupada com um futuro expectante, na urgência de uma nova ação sobre o mundo. A partilha ambiciona unir dispositivos e formas, memórias, inquietações e angústias, para sensibilizar o pensamento e o corpo de quem lê, ouve e vê: a palavra também constrói, o corpo também é lugar. Pela partilha do sensível, reativa-se o afeto.

Parar, voltar a parar, para a reparação ser possível.
é preciso reparar o Zêzere.
é preciso reparar a água.
é preciso reparar o mundo.

Médio Tejo
[1]
COMPOSIçãO
Carvão sobre parede
Guida Marques
As palavras são vestígios de memórias de composições entre a arquiteta Guida Marques, a especialista érica Castanheira e todas as vozes que foram ouvidas durante este caminho. Servem como contaminações do pensamento, da vontade de fazer sentir. As palavras que fazem leis e direitos também escrevem manifestos de aldeias que ganhavam a vida com o carvão.
[2]
OS RIOS TAMBéM MORREM – CORPO EM LUTO
Instalação multimédia
Guida Marques
O corpo-chão obriga o corpo-visitante a ser centro, a imitar o corpo em luto, em luta, por este rio. Fazemos parte do ecossistema. A reparação existe em quem está, existe recuperando o que fica entre as palavras, entre o corpo e a voz trémula que humaniza.
Albufeira do Alqueva

Pedrêz
+

Apresentada politicamente como caso exemplar, a Albufeira do Alqueva é responsável pela transformação extrema de uma paisagem – de sequeiro a regadio –, com a criação do maior lago artificial da Europa. A sua água permite dar resposta às necessidades energéticas emergentes, incentivar a crescente atratividade turística e, sobretudo, contribuir para a alta produtividade do agronegócio instalado, simultaneamente responsável pela contaminação e superexploração dos solos. Operando sobre as consequências desta alteração e atenta aos impactos na diversidade dos ecossistemas, estruturas patrimoniais e desigualdades sociais, a proposta explora a dimensão operativa e técnica da arquitetura, no desenvolvimento de dispositivos de descontaminação e produção de solo, na antevisão do futuro daquela região.

De forma ficcional, encena-se um futuro próximo onde a albufeira do Alqueva deixará de existir, dando lugar a um barreiro deserto rodeado por uma floresta exuberante de características únicas: um manto vegetal, formado por um tecido de bolsas circulares de vegetação capazes de reter quantidades de água equivalentes à que existiu outrora no lago. Artefacto para regeneração do solo é um invento construído em aço pela Pedrêz que, a partir da transformação de resíduos decorrentes da agro-indústria em energia térmica, hidrogénio, e carvão, possibilita a purificação da água e a produção de biofertilizante. A resposta concreta de regeneração social e ambiental, através da ação simples e continuada do ser humano na paisagem, reposiciona-o como elemento consciente e gerador de fertilidade.

Albufeira do Alqueva
[1]
DIAGRAMA DE FLUXOS
Estrutura de aço, madeira carbonizada, recipientes de vidro com materiais diversos (madeira, biocarvão, água, algas, composto, plantas)
Pedrêz
Esquema explicativo do processo de fabricação do solo: (I) Recolha de resíduos agrícolas de madeira; (II) Gaseificador de madeira para produção de biohidrogénio, biocarvão, energia térmica e elétrica; (III) O biocarvão atua na água como agente de limpeza, tanto absorvendo contaminantes quanto potenciando a eletrólise de limpeza; (IV) Produção de algas instigada pela injeção de CO2 na água; (VI) Oxidação do biocarvão e floculação de algas via eletrocorrente; (VII) Fertilizante à base de algas e biocarvão; (VIII) Solo orgânico reestruturado.
[2]
ARTEFATO PARA REGENERAçãO DO SOLO
Instalação em aço
Pedrêz
Reconstituição parcial do artefato que terá transformado os resíduos de madeira decorrentes da agro-indústria em energia térmica, hidrogénio, e carvão, possibilitando a purificação da água e produção de biofertilizante. Este artefato terá itinerado pelas margens do lago do Alqueva e reestruturado de forma gradual e continuada milhares de talhões circulares de terreno, dando origem ao padrão único de bolsas circulares de vegetação que caracteriza a mata do Alqueva.
[3]
DESENHOS DE ESTUDO SOBRE A FORMAçãO DA MATA DO ALQUEVA
Lápis sobre papel
Pedrêz
Desenhos de estudo sobre a formação da mata do Alqueva. Os desenhos discorrem sobre as condicionantes técnicas e a condição humana dos viajantes que terão trabalhado na reestruturação da paisagem.
[4]
ARQUIVO DE PESQUISA
Madeira, aço e registos em papel
Pedrêz e Lara Jacinto
Arquivo de desenhos, amostras e material produzido durante o processo.
[5]
ALQUEVA, 2010-2014
Impressão giclée em papel
Fotografia: Duarte Belo
Levantamento fotográfico da albufeira do Alqueva.
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EXTRATOS DE OXIMORO
Tinta sobre papel
Aurora Carapinha
Seleção de extratos do texto Oximoro de Aurora Carapinha, onde a arquiteta paisagista faz uma reflexão sobre a paisagem do Alqueva e suas vertentes sociais, económicas e políticas.
Perímetro de Rega do Rio Mira

Corpo Atelier
+

O Rio Mira é envolvido por um largo perímetro de rega atualmente dominado por investimentos e interesses exógenos, impostos aos modelos de exploração agrícola instalados, de menor escala ou ambição. Tirando proveito das redes preexistentes, as explorações de alto rendimento contribuem para o desigual acesso aos recursos hídricos, bem como para a contaminação de solos e água, pela introdução de agroquímicos aceleradores. Ao mesmo tempo, a sua viabilidade assenta na superexploração de trabalhadores imigrantes, agentes ocultos, sujeitos a condições precárias de trabalho e habitação. A proposta advoga o potencial político da arquitetura, a partir da denúncia das situações de exploração e sobreposição, alertando para a ausência de regulação deste sistema.

Aceitando a incapacidade da Arquitetura para encontrar uma resposta à complexidade desta problemática, avança-se uma instalação-denúncia que, pela sua dimensão poética, procura sensibilizar a consciência global para as questões sociais, ecológicas, administrativas e económicas em debate. Enquanto símbolo da distribuição desejavelmente democrática da água pelo território e pela população que o habita, o aqueduto, aqui incompleto, partido e fragmentado, evidencia a sua própria disfuncionalidade e despropósito. Este objeto mobilizador procura esclarecer a matriz da problemática no acesso à água nestas paisagens, imaginando três momentos distintos: junto à barragem de Santa Clara; num território natural e indefinido; e junto à foz do Rio Mira, onde a grande parte das explorações agrícolas de alto rendimento se aglomeram.

Perímetro de Rega do Rio Mira
[1]
ALL ANIMALS ARE EQUAL
Colagem, lápis de carvão, óleo em stick, lápis cor, fita de pintura e caneta sobre papel
Corpo Atelier
Conjunto de desenhos sobre colagem que ilustram a narrativa de um fragmento de aqueduto povoado por personagens do livro Animal Farm de George Orwell.
[2]
BODIES OF WATER
Colagem, lápis de carvão, óleo em stick, lápis cor, fita de pintura e caneta sobre papel
Corpo Atelier
Conjunto de desenhos sobre colagem ensaiando fragmentos de um aqueduto enquanto objeto incompleto na paisagem.
[3]
AQUEDUTO FRAGMENTADO EM TRêS MOMENTOS: BARRAGEM, PAISAGEM E COSTA
Impressão sobre papel, colagem, lápis de Carvão, óleo em stick, tinta acrílica, lápis cor e caneta sobre papel
Corpo Atelier
Ilustrações realistas de um aqueduto fragmentado em três paisagens diferentes: na barragem de Santa Clara, numa paisagem genérica deste território e sobre as estufas de produção de frutos vermelhos.
[4]
FRAGMENTO DE AQUEDUTO
Esferovite, gesso e tinta acrílica com água do Rio Mira, tinta de casa e figura de um porco em plástico com acrílico
Corpo Atelier
Ensaio em maqueta do processo de ruína de um objeto fazendo uso de processos, ora mais ora menos, controlados.
[5]
ANIMAIS E PAISAGEM
Colagem, lápis de carvão, óleo em stick, lápis cor, fita de pintura e caneta sobre papel
Corpo Atelier
Conjunto de desenhos sobre colagem de mapas das diferentes paisagens que pontuam o território sobre o qual se estende o Rio Mira, associando a cada território uma personagem específica do livro Animal Farm de George Orwell: a ovelha na barragem, o cavalo numa paisagem genérica e inabitada e o porco nas estufas junto à costa.
[6]
MIRA RIO
Vídeo, cor, som estéreo, 8’
Francisco Janes
Lagoa das Sete Cidades

Ilhéu Atelier
+

A Lagoa das Sete Cidades é o maior reservatório natural de água doce do arquipélago dos Açores e também uma das sete maravilhas naturais de Portugal. Apesar de romantizada, a atividade agropecuária é responsável pela degradação acelerada dos ecossistemas no território da bacia e na água das lagoas. O desmedido uso de fertilizantes para a produção de pastagens dá origem a processos de eutrofização, causando significativas emissões de dióxido de carbono para a atmosfera, bem como a deterioração do equilíbrio bio-físico-químico da água, inviabilizando a sua utilização. A proposta explora a (re)imaginação utópica da região, combatendo o principal foco de poluição das lagoas açorianas, ao reconsiderar criticamente o uso do solo, em direta articulação com as dimensões sociais, culturais, patrimoniais e naturais que definem a paisagem dos Açores.

Para repor a qualidade da água, o modelo propositivo apresentado considera remover do território o elemento poluidor das lagoas, ponderando todos os impactos em articulação interdisciplinar, de modo a garantir oportunidades mais sustentáveis. Manipulando as (in)tangibilidades do futuro, os diferentes discursos complementam-se e contribuem para outras visões do lugar, especulando sobre cenários fictícios. O granel, reconhecido elemento da arquitetura vernacular das Sete Cidades, é descontextualizado para albergar o símbolo da indústria agropecuária – a vaca. O arquétipo, tradicionalmente identificado como protetor dos bens agrícolas do solo, vê o seu propósito ironicamente invertido, para proteger o território dos efeitos nefastos da agropecuária.

Lagoa das Sete Cidades
[1]
CARTA ABERTA
Impressão sobre papel de algodão
Ilhéu Atelier
Carta aberta a quem possa interessar.
[2]
GABINETE DE CURIOSIDADES
Composição de vários elementos
Cidália Pavão, Ilhéu Atelier, João Paulo Constância, João Mora Porteiro, Maria Emanuel Albergaria
O conjunto de elementos, dispostos em paralelo e complementares entre si, pretende representar as Sete Cidades, na sua singularidade e simultaneidade de leituras. Cada peça reflete uma visão própria do lugar e resulta da seleção conjunta de uma dupla de arquitetos, um geógrafo, um geólogo, uma antropóloga e uma habitante desta freguesia. A articulação entre as diferentes peças procura elucidar o entendimento do lugar, considerando dimensões naturais, sociais, bem como a problemática da poluição das lagoas.
[3]
ARQUéTIPO PARA VACA
Madeira de criptoméria e pedra basáltica, escala 1:10
Ilhéu Atelier
O granel, reconhecido arquétipo da arquitetura vernacular das Sete Cidades, tem a função de proteger os bens agrícolas dos males provenientes do solo — humidade e pragas. Aqui, transforma-se e descontextualiza-se o granel, para inverter a sua função: ao invés de proteger os bens do humano, é urgente salvaguardar o território e as lagoas mesmo que em detrimento do pastoreio. O granel passa a albergar o símbolo da agropecuária e é, assim, uma alegoria da solução proposta, apontando o caminho necessário para a sobrevivência das lagoas — a ponderação crítica de uso do território e o lugar da vaca. A peça procura evidenciar de forma irónica, a manutenção da monocultura da agropecuária na bacia, como prática inadequadamente considerada como identitária do lugar
[4]
CENáRIOS IMAGINADOS
Impressão sobre papel de algodão e chapa de alumínio
Rendergram com coordenação de: Ilhéu Atelier & João Mora Porteiro
No políptico de seis cenários, as vacas das Sete Cidades são descoladas do território e a qualidade da água é reposta por um processo natural de auto-regeneração das lagoas. Surgem, então, infinitas possibilidades de ocupação dos terrenos de pastoreio e indaga- -se sobre o que poderia ser o lugar das Sete Cidades. As imagens procuram desbloquear o imaginário social e traduzir algumas dessas (im)possibilidades. Articulam opostos e espelham ilusões para o futuro, como o retorno à origem através da reflorestação, o aumento do nível da água, as ideias de oportunidades de coexistência do ser humano com o lugar ou os devaneios da natureza.
[5]
CARTOGRAMA DE FUTUROS IMAGINADOS
Impressão sobre papel de algodão e chapa de alumínio
Ilhéu Atelier & João Mora Porteiro
O processo de mapeamento do território permite o seu reconhecimento e um maior entendimento do lugar. A partir daqui, e através do distanciamento da realidade atual, é possível ampliar o imaginário de possibilidades para a bacia das Sete Cidades. Os cartogramas de realidades manipuladas traduzem cenários fantasiados para as atuais áreas de pastoreio da bacia. As diferentes narrativas dos cartogramas são imaginações para o território, que procuram indagar e especular hipóteses para o futuro. O agrupamento dos seis cartogramas simboliza a reflexão necessária de uma economia mais sustentável que evidencia a policultura e rejeita o paradigma da monocultura patente na ilha e nas Sete Cidades.
Lagoa das Sete Cidades
GABINETE DE CURIOSIDADES
Composição de vários elementos
Cidália Pavão, Ilhéu Atelier, João Paulo Constância, João Mora Porteiro, Maria Emanuel Albergaria
[1]
MAQUETE DA BACIA DAS SETE CIDADES, 2023
Cartão prensado e acrílico
Norigem
Maquete à escala 1/10.000 que, a partir da sobreelevação do dobro no eixo vertical, evidencia a presença do espelho de água e o declive topográfico que ascende das lagoas até à cumeeira, que delimita a bacia e a encerra sobre si mesma.
[2]
HYDROGRAPHIC OFFICE, SAN MICHEL, LONDON, 1850
Stampa su carta
Alexander Thomas Emeric Vidal
Cortesia: Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada
A partir desta carta da Ilha de São Miguel, com destaque nos portos mais importantes e na Bacia das Sete Cidades, é possível entender a relevância histórica que este território tem desde o século XIX
[3]
ARQUITETURA POPULAR DOS AçORES, 2000
Livro aberto, pp. 176–177
Ana Tostões et al.
Da queste due pagine su granai e cafuões, depositi agricoli tradizionali dell'isola di São Miguel, è possibile capire che questi archetipi acquisiscono caratteristiche diverse a seconda della loro posizione geografica sull'isola.
[4]
AMOSTRA DE PEDRA POMES SAMPLE OF PUMICE STONE, 2023
Pedra pomes em caixa de madeira
Ilhéu Atelier
Selecionada pelo geólogo João Paulo Constância, esta rocha vulcânica é um dos materiais predominantes na constituição do solo da bacia. As suas propriedades impermeabilizantes são um dos fatores que não contribuem para a melhoria da qualidade da água das lagoas.
[5]
MIRADOURO DA VISTA DO REI, LAGOA DAS SETE CIDADES, 2018
Impressão sobre papel
Francisco Nogueira
A fotografia é realizada a partir do mais turístico miradouro das Sete Cidades e, embora o ponto de vista seja recorrente, Francisco Nogueira enquadra o núcleo urbano da bacia, evidenciando a importância da presença humana na definição desta paisagem.
[6]
GRANEL DAS SETE CIDADES, 2023
Madeira de criptoméria
Miguel Arruda
Selecionado pela Presidente de Junta de Freguesia, Cidália Pavão, e produzido pelo artesão local Miguel Arruda, o modelo representa o arquétipo vernacular das Sete Cidades, utilizado para proteger os bens agrícolas de pragas e da humidade proveniente do solo.
[7]
AMOSTRA DE LINHO ARTESANAL, 2023
Fragmentos de linho em caixa de madeira
Maria de Lurdes Lindo
Embora hoje predomine a presença da agropecuária na paisagem da bacia, Maria Emanuel Albergaria relembra a paisagem outrora marcada por panos de linho a secarem nas margens após serem lavados nas lagoas pelas lavadeiras das Sete Cidades.
[8]
LAVADEIRA DAS SETE CIDADES, SEM DATA
Impressão sobre papel
Foto Nóbrega
Cortesia: Museu Carlos Machado
Selecionado pela antropóloga Maria Emanuel Albergaria, esta fotografia do século XX destaca o trabalho de lavar e branquear a roupa das pessoas de Ponta Delgada, principal trabalho das mulheres das Sete Cidades da época.
[9]
CARTA DE USOS DA BACIA DAS SETE CIDADES
Impressão sobre papel
Cortesia: João Porteiro, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade dos Açores
A partir das coloridas manchas desta carta, é possível compreender o uso atual do território, nomeadamente a dimensão do espelho de água e dos terrenos associados à prática da agropecuária.
[10]
AMOSTRA DE áGUA, 2023
Seis litros de água em frasco de vidro e cortiça
Ilhéu Atelier
água retirada da Lagoa Azul, repleta de matéria orgânica de cor esverdeada, representativa do estado de eutrofização identificado nas Lagoas das Sete Cidades desde o início da década de 1990.
[11]
AMOSTRA DE ADUBO COMPOSTO, 2023
15kg de adubo composto em caixa de madeira
Ilhéu Atelier
é provável que este seja um dos adubos usados no território das Sete Cidades para acelerar o processo de crescimento das pastagens. Segundo inquéritos realizados aos produtores de laticínios da bacia, os adubos e fertilizantes químicos são aplicados sem qualquer regra ou conhecimento agrónomo dos terrenos.
[12]
CARRO DE BOIS DAS FESTAS DO ESPíRITO SANTO, 2023
Madeiras, cerâmica, tecido e papel
Adelaide Costa
Selecionado pela Presidente de Junta de Freguesia, Cidália Pavão, e produzido pela artesã local Adelaide Costa, o modelo é uma representação dos carros de bois das festas do Espírito Santo das Sete Cidades. Embora as festas sejam uma celebração religiosa realizada por várias freguesias da ilha, segundo Cidália Pavão, o carro da sua freguesia, que desfila atrelado a dois bois, é o mais distinto do desfile.
[13]
AMOSTRA DE CRYPTOMERIA JAPONICA, 2023
Cubo de madeira
Ilhéu Atelier
Pela seleção de João Paulo Constância, geólogo e diretor do Museu Carlos Machado, a criptoméria, embora originária do Japão, é atualmente a espécie florestal mais significativa da ilha de São Miguel.
[14]
JORNAL DE SÃO MIGUEL, p.6, 1993
Impressão sobre papel
Helena N. Pereira e Margarida Maia
Este artigo de jornal, entre muitos outros realizados nos primeiros anos da década de 1990 na imprensa regional, revela um conjunto de manifestações de habitantes da Ilha de São Miguel realizadas após se tornarem públicos os estudos relativos aos níveis de eutrofização das duas lagoas mais famosas — Lagoa das Furnas e Lagoa das Sete Cidades.
[15]
MANIFESTAçãO DA ASSOCIAçãO AGRíCOLA DE SãO MIGUEL, 1993
Impressão sobre papel
RTP Arquivos
Fotograma obtido a partir da reportagem Presidência aberta ao ambiente de 1993, revela uma manifestação da Associação Agrícola de São Miguel, aquando da visita do Presidente da República à região, revelando que a preocupação pelo estado trófico das lagoas não era exclusiva da classe científica.
Ribeiras Madeirenses

Ponto Atelier
+

A repetida ocorrência das aluviões nas Ribeiras Madeirenses evidencia o preço a pagar pela urbanização rápida e não planeada do território, agravada pelos cada vez mais frequentes picos de precipitação, fruto das alterações climáticas, cuja responsabilidade redobrada caberá também ao desenfreado e carbonizado sector da construção. O desafio implica a reflexão crítica sobre o trauma associado a estes eventos, desenvolvendo hipóteses de revitalização das linhas de água, hoje fortemente artificializadas, recuperando a resiliência entretanto perdida.

A partir de uma releitura crítica das Ribeiras Madeirenses, quatro atos expectantes evocam quatro temporalidades que sinalizam transformações nas ribeiras da Madeira em resultado da ação antrópica. Unidos pela linha do desenho do corpo da água, esses atos reinscrevem: a imagem de um tempo pretérito em que a natureza vibrante das ribeiras participava verdadeiramente na vida da cidade; a imagem do tempo catastrófico das aluviões que, vindo do passado, atravessa o presente e ameaça o futuro; a imagem de um presente contínuo em que a vibração dessa vida urbana foi erradicada das ribeiras, numa tentativa de apagamento; e, por fim, a imagem de um tempo futuro que poderá existir e que procura recuperar o potencial latente destes corpos de massa líquida. Procurando na leitura territorial a possibilidade da experimentação de espaços de contenção, retenção e (re)condução para o redesenho do caminho da água, ensaiam-se, a várias cotas, construções topográficas de reconciliação entre o ser humano e a água.

Ribeiras Madeirenses
[1]
ATO I: BILHETE POSTAL DE UM PASSADO FéRTIL
Representação dos valores arquitectónicos de um passado
Pontoatelier — Ana Pedro Ferreira, Pedro Maria Ribeiro, Tonny Marques
– BILHETE POSTAL
Fotografia da Ribeira de Santa Luzia, Funchal, anterior a 1897.
Fotografia p/b impressa em papel de algodão de 300gr

– MEMóRIA DA RIBEIRA
Representação da Ribeira de Santa Luzia da cota 0.00 à cota 900
Desenho de linhas e imagem p/b em papel de algodão de 300gr

– PEDRA DE BASALTO
Origem geográfica: Ribeira de Santa Luzia, Ilha da Madeira, Portugal

O tempo lento, a água, a pedra quente da ribeira, a sombra das buganvílias, o som dos pássaros e o cheiro das árvores das alamedas. A Ribeira participa da cidade como peça de remate da topografia abrupta e conduz o curso de água pelo vale profundo que se desenha até ao mar.
[2]
ATO II: TEMPO TRANSVERSAL DA DESTRUIçãO
Representação das Aluviões ao longo dos tempos e das suas consequências
– ALUVIãO
Fotografia da aluvião na Ribeira de João Gomes, Funchal, Portugal, 2010. Photograph of the flash flood in João Gomes Stream, Funchal, Portugal, 2010. ©élvio Fernandes e JM
Fotografia p/b impressa em papel de algodão de 300gr

– DESTRUIçãO E TRANSFORMAçãO
Representação das Aluviões até aos dias de hoje
Desenho de linhas e imagem p/b em papel de algodão de 300gr

– PEDRA DE BASALTO
Origem geográfica: Ribeira de Santa Luzia, Ilha da Madeira, Portugal

Destruição descendente. A água encontra o seu caminho, invade a cidade, as ruas, as praças, as casas. A Natureza traduz-se numa resposta agressiva sobre a ação de antropização, esculpindo o território, destruindo e transformando a cidade.
[3]
ATO III: PRESENTE SEM MEMóRIA
Representação do tempo atual, resposta dada à consequência das aluviões
– A CONDUTATA
Ribeira de Santa Luzia, depois das intervenções de engenharia hidráulica nas ribeiras do Funchal no pós-aluvião de 2010, Funchal, Portugal, setembro de 2017. © Danilo Matos.
Fotografia p/b impressa em papel de algodão de 300gr

– APAGAMENTO DA MEMóRIA
Representação de ausência da ribeira através de imagem ortofomapa
Desenho de linhas e imagem p/b em papel de algodão de 300gr

– PEDRA DE BASALTO
Origem geográfica Ribeira de Santa Luzia, Ilha da Madeira, Portugal
A ação irreversível de uma ribeira que se transforma em conduta. O barulho dos carros, as varandas fechadas, o quente do alcatrão invade os passeios. O apagamento da memória dos valores de um passado.
[4]
ATO IV: FUTURO FéRTIL
Representação de um tempo que poderá existir
Pontoatelier — Ana Pedro Ferreira, Pedro Maria Ribeiro, Tonny Marques
– MEMóRIAS DO FUTURO FéRTIL
Colagem digital sobre fotografia atual da Ribeira de Santa Luzia, 2023
Impressão a cores em papel de algodão de 300gr

– O NOVO CAMINHO DA áGUA
Representação da ribeira através de imagem ortofomapa com representação da estratificação a várias cotas e tipologias propositivas
Desenho de linhas e imagem p/b em papel de algodão de 300gr

– PEDRA DE BASALTO
Origem geográfica: Ribeira de Santa Luzia, Ilha da Madeira, Portugal
O redesenho do caminho da água. Uma leitura territorial e de estratificação da Ribeira a várias cotas dão origem a uma ideia de futuro, através de ensaios espaciais e tipológicos de construções topográficas que se adossam ao corpo geológico para conter, conduzir e armazenar a massa líquida que permite reativar espaços, manter jardins e alimentar alamedas e passeios em sombra.
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CONSTRUçãO DE UMA MEMóRIA LíQUIDA
Maquete, escala 1:500 — Cortes transversais do perfil da Ribeira com o desenho da
água a várias cotas
Esferovite XPS, cor branca de alta densidade
A maquete à escala 1:500, representa um troço da ribeira desde a cota 0.0 à cota 900, em vinte cortes transversais distanciados de 30 em 30cm. A cada corte topográfico corresponde um ensaio, uma experiência, uma construção topográfica e tipológica de espaços que desenham um novo caminho da água.
Mapa Veneza
Abertura ao público
20.05.2023 — 10:00

Morada
Palazzo Franchetti
S. Marco, 2847, 30124 Venezia VE, Itália
(Ao lado da Ponte da Accademia)
Barco
Linhas: 1, 2

Horário de abertura
20.05 — 26.11.2023
Terça a Domingo: 10:00 — 18:00
Fechado às segundas-feiras excepto:
22.05, 14.08, 4.09, 16.10, 30.10, 20.11
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